Mesmo com alto índice de adesão ao Governo Federal, deputados federais
do Ceará acumulam discordâncias em relação à gestão Dilma Rousseff, o
que leva, em algumas ocasiões, os aliados a votar contra a posição do
Executivo Federal e dos partidos aos quais são filiados. Atualmente, a
maior divergência dos congressistas cearenses com a União refere-se à
criação de novos municípios, pauta defendida em peso pelas lideranças do
Estado.
Segundo indica o aplicativo Basômetro, do Estadão Dados, até 12 de
março, 98% das votações do deputado José Airton (PT) seguiam orientação
governista. Enquanto isso, a única voz de oposição da bancada,
Raimundo
Gomes de Matos (PSDB), aderiu a 41% das propostas apoiadas pelo Governo.
Dos parlamentares considerados aliados à gestão federal, Gorete Pereira
(PR) foi a que apresentou menor índice de apoio aos projetos defendidos
pelo Governo. Ainda assim, alcançou expressivos 80% de taxa de
governismo, sendo 103 votos a favor e 25 contra a orientação do Palácio
do Planalto. Uma abstenção foi contabilizada, além de 89 ausências em
votações.
A deputada argumenta que só vota a favor do Governo quando a matéria
não fere seus princípios pessoais. "Sou da base, mas tem algumas
matérias que afetam a minha categoria (dos fisioterapeutas), da área da
Saúde. Peço licença ao líder do partido para votar contra. Eu digo que
não tenho como votar a favor, porque não vou votar contra mim",
justifica.
A despeito das ressalvas, Gorete Pereira faz questão de frisar que tem
apoiado a ampla maioria das propostas governistas. "Eu estou com ela
(Dilma), mas em primeiro lugar estou comigo. Tenho uma satisfação a dar
ao meu eleitorado", reforça.
Retaliação
Questionada se já recebeu sinal amarelo do partido pelos votos
contrários à orientação do Planalto, Gorete admite que sofreu
retaliação. "Já, mas meu partido me respeita muito. Sou vice-líder do
partido no Brasil. Às vezes, (Anthony) Garotinho pedia pra eu me abster e
eu dizia que ia votar por mim. Mas o partido nunca fechou questão,
porque aí eu teria problema", pondera.
Ao fechar questão sobre determinado tema, as legendas obrigam os
filiados a seguirem o voto do partido, sob pena de serem acusados de
infidelidade partidária. De acordo com o deputado Ariosto Holanda, do
Pros, essa é a única situação que o obriga a aderir a uma proposta
governista da qual discorde. "As que vão de encontro ao que minha
consciência defende eu vou contra. Não sigo nem o líder, a não ser que o
partido feche questão", declara o parlamentar, que votou favorável a
90% das propostas apoiadas pelo Governo.
O aliado faz coro à opinião da maioria dos colegas, ao defender a
emancipação de distritos no Ceará. A pauta é vista com meandros pelo
Governo Federal, que já vetou um projeto aprovado no Congresso. "Eu
procuro discutir com o Governo ações para beneficiar a população, tento
ter uma atitude mais republicana. Tenho encontrado mais espaço nos
ministérios", alega.
O deputado Vicente Arruda (Pros) rechaça a versão de que suas votações
em consonância com a orientação da presidente Dilma têm caráter
governista. "Não sou governista, sou independente. O Governo está cheio
de erros. A situação não está boa (...). Não posso ser contra coisas que
estão melhorando a vida da população", encerra. Das votações de Arruda,
81% agradaram o Palácio do Planalto.
Oposição
Já Raimundo Gomes de Matos, hoje o único opositor ao Executivo Federal
na bancada cearense, explica que as votações favoráveis às propostas do
Governo, um total de 41% até agora, não simbolizam adesão à gestão
federal. "A postura do PSDB na Câmara Federal tem uma
corresponsabilidade com o País, a linha não é fazer oposição por
oposição e votar contra propostas de interesses da nação. Há debate, mas
temos que ser conscientes e responsáveis", define.
O tucano garante que a sua postura no parlamento vai ao encontro dos
anseios da sociedade, independentemente de defendidos por PT ou PSDB.
"(Votei em) Medidas provisórias em favor do agricultor, que o Governo
mandou. Outras em ações de Defesa Civil. Não é porque aderi ao governo.
São matérias conscientes", exemplifica Gomes de Matos, que é favorável à
criação de novos municípios no Brasil.
O deputado André Figueiredo, líder do PDT na Câmara Federal, informa
que a sigla é aliada ao Governo Federal, mas não tem opinião passiva no
Congresso. "Nossa postura, desde que assumi o mandato e mesmo como líder
(do PDT), deixava claro que votaria a maioria dos projetos do governo,
mas nunca sendo subserviente", responde o pedetista, cuja taxa de
governismo é de 84% nas votações.
Figueiredo cita ocasiões em que o PDT foi contra a orientação
governista, a exemplo da votação sobre os royalties do petróleo.
"Depois, a própria Dilma concordou que a opção defendida pelo partido
era melhor (...). Temos nossos princípios partidários que são mais
fortes do que um projeto que atente contra nossos ideais", defende.
POSTADA;GOMES SILVEIRA
FONTE;DN
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