segunda-feira, 8 de maio de 2017

A persistência se faz natureza

Sertão é terra-mãe, com todas as delicadezas deste relacionamento. Pariu e criou Maria,
João, Francisco, José, Ivone, Abel, Valquíria. Sertanejos que, neste caderno especial, conduzem as narrativas de dentro para fora. Mostram a casa que construíram com o tanto que plantaram; espelham como resistiram com menos água, comida e sonhos. Contam como o passado os fazem ir até o amanhecer seguinte, atravessando o presente.

As memórias distendem o tempo, a persistência se faz natureza. E já não há apenas a dualidade entre seca e chuva, falta e fartura. Existe a permanência. Não é tapar o sol com saudades; é ir ao encontro do sol a maior parte da vida. O sertanejo vai. Por ser também mãe, é difícil ir embora do sertão, deixá-lo para trás. O sertão ensina a querer bem – a um rio, a um pedaço de chão, a um bicho, a uma vida.  
Em quatro dias pelas entranhas do Ceará, por mais de 1.300 quilômetros de sertão,  POVO foi em busca das chuvas que retornaram este ano – depois de uma estiagem desde 2012. No roteiro por Canindé, Madalena, Tauá, Inhamuns, Varjota, Pentecoste e Apuiarés, o ponto de partida era a convivência com a (pouca) água. 
A reportagem queria saber as estratégias desta convivência, pelas beiradas de grandes açudes em agonia; as lições da seca para qualquer tempo. Não só a fé sertaneja em Deus, nem as obras emergenciais dos governos. Não só a espera e a estrutura, mas, principalmente, a esperança – que é o que move – e o subjetivo – que é a própria reinvenção de um lugar, de um povo. A chuva no sertão, este ano, foi como alguém que regressa de uma ausência. Entrou pelas horas e conversas, pelos olhos dos sertanejos e pelas brechas das casas; trouxe cheiro e cor; renasceu a alegria. 
É verdade que a chuva de 2017 não remediou a seca dos últimos cinco anos. Mal chegou e já está de partida. Permanece a peleja. 
Desde 2012, O POVO vem publicando, em uma série de cadernos especiais e reportagens, experiências de viver a falta: as alternativas, as tecnologias, os recomeços no sertão. Mas faltava dizer porque se volta, porque se fica. 
Neste caderno de viagem, mais do que as águas, O POVO encontrou os afetos no caminho. Foi o ponto de chegada, desta vez. Ainda que os sertanejos ouvidos pela reportagem não falassem em amor, palavra farta, todos disseram da coragem em viver com o sertão. 

E, nesta redescoberta, o título deste caderno especial é inspirado na obra-mestra de João Guimarães Rosa (1908-1967), Grande Sertão: Veredas (1956). Com a licença do plural e da desmedida que esta reportagem propõe: os sertões são muitos e estão dentro das gentes.


FONTE - O POVO
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POSTADA  POR GOMES SILVEIRA

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