“Perdoa-nos Senhor, perdoa-nos.
Sexta feira Santa. O Senhor está morto. Em volta de seu sepulcro o
universo fecha-se em trevas. Tudo é tristeza. Cristo é a fonte geradora
do amor, sem o qual tropeçamos, a cada momento, porque é a única luz
capaz de nos fazer caminhar e superar os impérvios caminhos da vida.
Senhor… perdoa o nosso crime. Reconhecemos que o açoitamos, quando
negamos ajuda ao pobre que nos estende a mão. Revivemos a maldade de
Herodes, quando somos indiferentes ao sofrimento das crianças sem lar,
sem pão, que abandonamos no mundo, e as fazemos palmilhar a estrada da
perversão.
Perdoa Senhor a nossa maldade, quando o fazemos cair novamente sob o
pesado madeiro da sua cruz, levando jovens inocentes e indefesas, sob
promessa de uma vida melhor, ao sacrifício da prostituição, jogando-as
no submundo do infortúnio e do sofrimento.
Perdoa Senhor, se cuspimos no seu rosto, quando tiramos, da minguada
mesa do pobre, o pão que esbanjamos em banquetes festivos, ao gargalhar
de nossa ambição. Perdoa Senhor, se o trocamos por Barrabás, quando
negamos justiça aos que dela necessitam e fazemos valer a força contra a
razão, quando condenamos o justo, e o fazemos pagar pelos crimes que
não cometeu.
Perdoa Senhor, se colocamos uma coroa de espinhos para identificar o
filho de Deus, fazendo jorrar pelo seu rosto o sangue inocente, e
coroamos a hipocrisia com a coroa de ouro, levando ao poder a injustiça,
a maldade e o desamor. Perdoa Senhor, o beijo da traição, porque se
incriminamos Judas que traiu uma única vez, continuamos beijando para
marcar as vítimas de nossa infidelidade, a quem abraçamos festivamente,
para apunhalar, logo em seguida.
Perdoa Senhor, se magoamos as suas chagas, quando fazemos sangrar as
mãos dos que trabalham no campo, negando, a eles, o pão que produzem, e
os fazemos eternos escravos dos senhores poderosos, detentores do poder e
da força.
Perdoa Senhor, se fazemos Maria Santíssima chorar, quando rimos do
sofrimento das mães aflitas, que lutam desesperadamente para salvar seus
filhos, que morrem no abandono, com febre, doentes, crucificados pela
nossa falta de caridade cristã.
Perdoa Senhor. Perdoa porque sem o seu perdão, sem a sua presença, o
mundo fica sempre assim, em trevas, em luz, sem ar, sem vida, porque sem
o amor nada floresce e nada existe. Perdoa Senhor, se lembramos
Pilatos, quando lavamos as mãos com indiferença aos que são castigados
injustamente, porque a nossa covardia não nos permite contrariar a sanha
do algoz sanguinário.
Conscientes de nossas fraquezas e admitindo que, amanhã, estejamos
novamente o açoitando, O traindo e o crucificando, perdoa-nos Senhor. O
Seu perdão é o alívio para o nosso remorso, afinal o remorso é o bom
pensamento dos maus.
Quando o cântico da Aleluia anunciar a Sua Ressurreição, dá-nos
forças, Senhor, para que a luz da esperança, da compreensão, da
humildade e do amor não se apague dentro de nós. Que nossos corações
sejam eternas manjedouras, onde o verdadeiro Cristo seja acolhido todos
os dias e, em nosso interior, permaneça como luz protetora e salvadora.
Perdoa-nos, Senhor. Perdoa-nos.”
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário Sertão Central
Nenhum comentário:
Postar um comentário