O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), apresentou documentos à CPI do Cachoeira (acompanhe o depoimento ao vivo) em
uma tentativa de comprovar que a venda da sua casa no Condomínio
Alphaville, em Goiânia, foi regular e não envolveu a participação do
contraventor Carlinhos Cachoeira.
O tucano, que fala à Comissão
Parlamentar de Inquérito desde as 10h30 desta terça, encaminhou ao
colegiado anúncios de oferta da casa publicados em classificados de um
jornal de Goiânia, a escritura do imóvel, cópia dos cheques que pagaram a
transação e extratos bancários com a comprovação dos depósitos na conta
do político goiano.
Os esclarecimentos sobre o imóvel podem revelar o grau de proximidade
entre o governador e Cachoeira. Foi nessa casa que o contraventor foi
preso pela Polícia Federal em 29 de fevereiro. “Tive uma atitude mais
que legítima de um cidadão comum quando resolvi vender minha casa",
disse o governador. "Se soubesse que a venda dessa casa geraria tanta
confusão e desconforto, continuaria a morar nela”.
A versão mais recorrente de Marconi Perillo dá conta de que a casa foi
vendida para o empresário Walter Paulo. A transação teria sido
intermediada pelo ex-vereador Wladimir Garcez (PSDB), que repassou três
cheques ao político recolhidos do ex-diretor da construtora Delta no
Centro-Oeste, Cláudio Abreu. Perillo insiste na tese de que não se
atentou para o titular dos cheques – dois no valor de 500 000 reais e um
de 400 000 reais. Em outra versão, no entanto, o governador afirmou que
negociava com Garcez e soube que o ex-vereador não seria mais o
comprador do imóvel apenas no momento da escrituração e registro da
casa.
Marconi Perillo disse “lamentar” não ter observado os emitentes do
cheque – a empresa Excitant Confecções, da cunhada do contraventor. “Não
me preocupei em saber quem era o emitente dos cheques e já me lamentei
sobre isso", afirmou. "A escritura só seria lavrada depois da
compensação dos cheques. Essa era minha segurança no negócio”. A Polícia
Federal afirma que os cheques foram assinados por um sobrinho de
Cachoeira. Perillo disse que não é “usual” questionar a origem do
dinheiro que ele receberia pela compra imobiliária. “Recebi os
pagamentos e só agora soube que ele havia usado de empréstimos de
terceiros.
Eu não sabia e não era obrigado a saber”, declarou.
O tucano se eximiu de qualquer responsabilidade caso tenha havido
irregularidades na transação: “se algum dos citados nas escutas tirou
vantagem ou ganhou dinheiro com o negócio foi sem meu
conhecimento”. Perillo tentou demonstrar indignação sobre os
questionamentos acerca da casa. “É incrível que eu seja exposto por ter
vendido um bem pessoal, meu, absolutamente e rigorosamente dentro da
lei", disse.
Em sua exposição inicial, Perillo falou por pouco mais de uma hora.
Depois disso, ele respondeu a perguntas do relator da CPI, deputado
Odair Cunha (PT-MG). Só às 13h30 é que os outros parlamentares da
comissão puderam usar a palavra.
Proximidade - O governador negou ter qualquer
proximidade com Carlinhos Cachoeira, disse que seu governo não atendeu
os interesses da quadrilha e afirmou que não pode responder pelas
declarações de terceiros que citaram seu nome. "Nunca mantive qualquer
relação de proximidade com o senhor Carlos Augusto Almeida Ramos",
disse. O governador destacou o fato de que, em 30.000 horas de
gravações, foi detectada apenas uma conversa telefônica entre ele e o
contraventor. Foi em 3 de maio do ano passado, quando Perillo desejou
feliz aniversário a Cachoeira. "Eu não estava ligando para o
contraventor, mas para um empresário do ramo de medicamentos", disse o
tucano à CPI.
Perillo reconheceu que em seu atual governo recebeu o contraventor no
Palácio das Esmeraldas uma vez e o encontrou em dois jantares. Ele
também tentou usar a seu favor o fato de que a quadrilha de Cachoeira
cooptou 34 policiais civis e militares: "Isso evidencia que o estado não
tolerava práticas ilícitas. Caso contrário, não seria preciso
infiltração no aparelho policial", afirmou.
Sobre as conversas da quadrilha em que seu nome é mencionado, o tucano
disse que não pode ser responsabilizado por diálogos de terceiros."Não
há nenhum ato do meu governo em benefício a Cachoeira ou na direção do
que suscitam os diálogos mencionados pela imprensa sobre a Operação
Monte Carlo. Falaram muito sobre seus planos mas nada se concretizou".
Caixa 2 - O tucano disse ainda que não recebeu caixa 2
de campanha e desmentiu o jornalista Luiz Carlos Bordoni, que diz ter
sido pago pelo grupo de Cachoeira depois de prestar serviços à campanha
de Perillo em 2010. "Nunca foi feito qualquer pagamento ao jornalista
luis Carlos Bordoni no período eleitoral", disse.
Início - O governador iniciou seu depoimento à CPI por
volta de 10h30 desta terça-feira e usou os primeiros minutos de sua
defesa para se dizer vítima de “fatos distorcidos”. Assim como os
advogados do contraventor Carlinhos Cachoeira e do senador Demóstenes
Torres (sem partido-GO), que alegam que as interceptações telefônicas
captadas na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, foram divulgadas
de forma distorcida e editada, o governador goiano afirmou que
“informações descabidas” o colocaram no meio das denúncias.
Vítima - Perillo iniciou seu depoimento tentando
demonstrar segurança:“Venho a esta CPI com a cabeça erguida e firme no
propósito de apresentar a verdade dos fatos”, disse o governador,
relembrando que ele próprio pediu para ser ouvido na comissão e que se
colocou à disposição da procuradoria-geral da República (PGR) para ser
investigado. "Venho para restabelecer a verdade dos fatos. Não conheço
algo parecido no país desde que reconquistamos a democracia. Não consigo
acreditar em tamanha crueldade, informações distorcidas, ilações,
suposições e todo tipo de leviandades”.
Antes do aguardado depoimento que presta ao colegiado nesta quinta-feira, manifestantes pró e anti-Perillo se digladiaram e gritaram
palavras de apoio e repulsa ao político. O depoimento de Perillo à CPI é
acompanhado pelo vice-governador de Goiás, José Eliton Figuerêdo
Junior, pelo secretário da Casa Civil, Vilmar Rocha, pelo presidente da
Assembleia Legislativa de Goiás, Jardel Sebba, pelo secretário de
Educação, Thiago Peixoto, além de deputados estaduais, prefeitos e
vereadores.
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário