quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Novo pontífice - Polêmicas influenciarão escolha


Homossexualidade, aborto e fim do celibato são temas que devem ser debatidos pelos cardeais na eleição

Cidade do Vaticano O conclave que vai eleger o próximo papa deverá discutir se a Igreja deve ouvir ou não os apelos vindos de um grande número de católicos para uma maior abertura ao papel das mulheres, à tolerância com a homossexualidade, ao reconhecimento dos casais não casados e divorciados.

Os cardeais-eleitores deverão ter em mente a escolha de um papa que responda aos anseios de católicos que desejam maior abertura da Igreja FOTO: REUTERS

Os cardeais eleitores, conservadores em sua maioria, se reunirão no início de março em "congregações gerais" para preparar o conclave: momento privilegiado para determinar o perfil do futuro papa à luz dos múltiplos desafios que a Igreja enfrenta.

Ao anunciar sua demissão explicando não ter mais capacidade de responder ao "mundo de hoje", sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande importância para "a vida da fé", Bento XVI tinha em mente, entre outros, estes assuntos da atualidade que são alvos de revoltas no seio das Igrejas ocidentais e cada vez mais latino-americanas e asiáticas.

As mulheres - maioria nas igrejas - não têm direitos à altura de suas responsabilidades, já que a Igreja, e sobretudo o Vaticano, continuam sendo predominantemente masculinos.

Tabus

A questão da homossexualidade é um assunto igualmente sensível. Os homossexuais católicos não aceitam mais ser considerados pecadores, mesmo que eles sejam mais respeitados que antigamente. Os casos de homossexualidade no clero também provocam, vez por outra, certa agitação. Aparentemente foi por causa de "atos inapropriados" homossexuais que o Primaz da Escócia, Keith O´Brien, teve que pedir demissão, e a imprensa italiana falou num suposto "lobby gay" no Vaticano.

Muitos jovens católicos hoje em dia vivem juntos antes do casamento, sem se sentirem culpados: uma realidade que a Igreja também deve levar em conta.

Os divorciados casados novamente, que não podem comungar, se sentem excluídos da Igreja, mesmo que Bento XVI tenha insistido em dizer que s não são.

Uma reforma normalmente pedida e que poderia também chegar a um novo pontificado é a possibilidade de que homens casados virem padres: bispos lutam discretamente em favor de uma evolução neste sentido.

Contradição

Todos esses assuntos se propagam mais do que a mensagem exigente e moralista da Igreja sobre a castidade, a pureza e o valor do celibato, que se mostram contraditórios face aos escândalos envolvendo padres.

Diante de todas essas reivindicações, os bispos não têm respostas simples para dar. Mas é o tom que deve mudar para fechar a rachadura que houve com uma parte da juventude.

Os cardeais deveriam procurar um papa capaz de dialogar com o mundo moderno. No entanto, não será um revolucionário: a herança de Bento XVI é a segurança doutrinária e a intangibilidade da defesa de certos valores, especialmente o não ao aborto, à eutanásia, às manipulações genéticas e ao casamento homossexual.

Brasileiros poderão votar em bloco

São Paulo Os cinco cardeais brasileiros que participarão do conclave para a sucessão de Bento XVI não entrarão na Capela Sistina apoiando o mesmo candidato, mas poderão se unir em torno de um nome após os primeiros escrutínios.

Se todos concordam com alguns pontos básicos para enfrentar a crise que abalou o Vaticano nos últimos anos, o perfil ideal de um papa capaz de recuperar a imagem e o prestígio da Igreja ainda está começando a ser desenhado. "A Cúria Romana terá de passar por uma reforma profunda", disse o cardeal d. Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador (BA).

D. Geraldo é um homem que conhece bem a máquina central da Santa Sé, pois trabalhou por mais de sete anos na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Sem citar nomes, o que é proibido sob pena de excomunhão aos cardeais, ele espera que seja eleito um papa com espírito de pastor que tenha pulso forte. Padre Manoel Godoy, ex-assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que conhece bem o episcopado, aposta que d. Geraldo, d. Cláudio Hummes e d. Odilo Scherer, deverão votar num nome mais conservador - no caso, o arcebispo de Milão, Angelo Scola, que manteria a linha de Bento XVI.

D. Cláudio é prefeito emérito da Congregação para o Clero e d. Odilo, arcebispo de São Paulo, é bem alinhado com o Vaticano.

Scola, um dos nomes mais citados na lista de papabili, poderá ter o voto também de outro brasileiro, d. João Braz de Aviz.

O mineiro d. Raymundo Damasceno, cardeal-arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, tenderia a votar num candidato mais aberto, como o italiano Gianfranco Ravasi. Os brasileiros já se encontram em Roma.

ARTIGO

O papa vai jantar

Ao encerrar longa entrevista, um repórter insiste com o porta-voz do Vaticano, por mais uma pergunta. Com sua anuência, ele pergunta: "Padre Lombardi, o que é que Bento XVI vai fazer no dia 28 de fevereiro após as 20 horas, quando terá deixado de ser papa?".

Ele respondeu: "Bem, dizer com toda certeza eu não sei, mas eu presumo que ele vai jantar!". A gargalha foi geral. O fato é que constitui grande curiosidade a vida cotidiana de um papa que abdicou. São muitas a interrogações: Como ele será chamado? Como ele vai se vestir? Onde ele vai morar? Como ele vai sobreviver? Como fica a sua infalibilidade?

Nenhuma dessas questões constitui um problema. Todas são explicáveis. Sua eminência dom Joseph Ratzinger na verdade era também o bispo de Roma, portanto ele será bispo emérito de Roma, ou o inédito, papa emérito. Usará o título e a veste de cardeal. Ele sempre terá onde morar e os meios para a sua subsistência. Inicialmente vai morar em Castel Gandolfo e posteriormente num mosteiro dentro do Vaticano.

Eu imagino que morará ali só por algum tempo. É natural que ele se preserve do assédio de escritores, cineastas e jornalistas. Assim, se nosso cineasta Rosemberg Cariry - que foi meu aluno no curso de filosofia, em Fortaleza - quiser fazer um documentário com Bento XVI, dificilmente conseguirá. É possível que baixada a poeira, serenada a curiosidade geral sobre a renúncia, que não acontecia há quase 600 anos, ele vá morar alhures, provavelmente na Alemanha, seu país.

Enquanto estiver no Vaticano, eu presumo, por alguns meses ou anos, ele estará resguardado na sua privacidade e dará um apoio moral a seu sucessor. Sua presença ali, com certeza não causará nenhum transtorno e não interferirá no serviço do novo papa. A infalibilidade do pontífice, é paradoxalmente o dogma mais contestado e o mais simples. A impressão que sempre tive é que o preconceito obnubila a mente de muitos para não entender.

O papa só é infalível, "quando fala ex-cathedra, sobre matéria de fé ou de costumes, que deve ser admitida por toda a Igreja" (Bula, Pastor Aeternus, de 18/07/1870). Isso é um fato tão raro que de 1870 até hoje só aconteceu uma vez, em 1950 quando o papa Pio XII promulgou o dogma da Assunção de Nossa Senhora.

Hermínio Bezerra
Frei




Postada:Gomes Siilveira
Fonte:Diário do Nordeste

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