Ainda com dificuldade de dimensionar os efeitos do rompimento entre o senador Cid Gomes (PSB) e o governador Elmano de Freitas (PT), membros da base aliada do PT no Ceará adotam o silêncio ou um discurso apaziguador sobre a situação. O PontoPoder contatou deputados do PT e da ala cidista do PDT e outras lideranças da base para entender o cenário pós-ruptura.
Até o momento, Elmano não se pronunciou publicamente sobre a cisão. Nesta segunda-feira (18), conforme anunciado pelo Governo, o petista participaria do evento de lançamento do Projeto Empodera, de capacitação e auxílio a mulheres vítimas de violência doméstica, no Palácio da Abolição, mas ele não compareceu. Esta seria uma das suas primeiras agendas desde que o esgotamento da relação veio à tona.
A vice-governadora e secretária das Mulheres do Ceará, Jade Romero (MDB), foi quem assumiu as formalidades na ocasião. À imprensa, ela disse que não se sente à vontade para comentar o distanciamento entre os dois. “Eu não escutei o Cid falando nada. Acho que a gente tem que aguardar”, completou.
Também presente no lançamento do Empodera, a vice-prefeita de Sobral, Christianne Coelho (PT), adotou postura semelhante e evitou se prolongar no assunto.
No berço político dos Ferreira Gomes, e onde os dois grupos políticos tentaram levar a aliança adiante na chapa de sucessão de Ivo Gomes (PSB), que acabou derrotada em outubro, ela disse: “Em Sobral, é uma aliança que vem dando muito certo e o meu desejo é que dure por bastante tempo, acho que só nos fortalece”.
Outra figura que compareceu ao evento foi o prefeito de Maranguape, Átila Câmara, correligionário de Cid e reeleito com apoio do governador Elmano.
“Obviamente, todos nós queremos que a base que elegeu o governador Elmano se mantenha coesa. [...] O senador Cid não se manifestou até o momento e eu espero que eles possam sentar, conversar, se entender. Esse ruído de comunicação muitas vezes é comum em qualquer governo. Algumas situações são um pouco mais espinhosas, requerem um pouco mais de diálogo”, comentou.
Nenhum deputado com cadeira ativa na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) ou na Câmara dos Deputados participou da agenda desta segunda-feira.
Rompimento e desdobramentos
Nem Elmano, nem Cid foram a público comentar o azedamento da relação. Os dois teriam se reunido no último sábado (16), mas a conversa terminou em maus termos. Foi a irmã do pessebista, a deputada estadual Lia Gomes (PDT), que confirmou o rompimento ao colunista do PontoPoder, Wagner Mendes.
Disse (ao governador) que não se sente mais fazendo parte do grupo porque acha que existe uma concentração de decisão nas mãos das pessoas do PT
A situação deve ser discutida em reunião da Executiva estadual do PSB marcada para esta terça-feira (19), ainda sem horário definido. "Vamos conversar porque isso não pode acontecer assim. [...] O princípio nosso, o objetivo é encontrar caminho para resolver isso", explicou o presidente do PSB Ceará, Eudoro Santana.
Deputados repercutem
Entre os parlamentares da base imediata do governo, aqueles do PT e da ala cidista do PDT, apenas dois comentaram a situação. Líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados e um dos principais articuladores políticos da sigla no Ceará, José Guimarães acredita no diálogo neste momento e avalia que “o melhor caminho” é manter a aliança de quase 20 anos com o grupo liderado por Cid Gomes.
O estopim do rompimento, segundo interlocutores do senador, foi a indicação de Fernando Santana (PT), atual vice-presidente da Assembleia, como candidato governista à Presidência da Casa para a sucessão de Evandro Leitão (PT), enquanto o pessebista afirmava não participar das discussões. Os desgastes, contudo, não são recentes, uma vez que Cid já vinha indicando incômodo com uma certa hegemonia do PT no Estado.
A presidência da Assembleia é uma definição dos partidos da base, até porque, historicamente, isso não pode ser motivo de qualquer rompimento. Historicamente, os governos estaduais, em função do projeto de governo, de poder, sempre elegeram os presidentes da Assembleia. [...] Foi assim nos dois mandatos do Cid, evidentemente, com diálogo. Foi assim no Camilo e é assim no Elmano
Apesar da repercussão, Guimarães sustentou que o Governo siga apoiando a candidatura de Fernando Santana na Assembleia. “O Fernando reúne as condições políticas ideais para presidir a Assembleia e ajudar o governador Elmano a manter a independência do Poder Legislativo e construir cada vez mais um Ceará forte. O nosso projeto é desenvolver o Estado, projetos estruturantes, e o presidente da Assembleia pode contribuir muito”, avaliou.
De Assis Diniz, líder do PT na Alece, afirmou que divergências são normais e defendeu a aliança com o senador. Mas sobre a eleição para o comando da Assembleia, reiterou que, “quando tem mais de um candidato na base, quem tem prerrogativa (de escolha) é o governador”. Assim, segundo ele, o nome de Fernando Santana “está pacificado” na base.
“O Cid é um grande quadro, tem estado conosco nas grandes decisões do Estado. [...] Eu conversei com quase todos os deputados do PDT que têm relações pessoais com Cid. Em nenhum momento, ele exigiu ou colocou condicionantes, deles agirem com as suas convicções. E todos afirmam o seu apoio a Fernando Santana”, garantiu De Assis.
Os deputados federais José Airton Félix (PT) e Idilvan Alencar (PDT) chegaram a responder ao contato da reportagem, mas não comentaram o assunto. O primeiro, por não ter conversado a respeito disso ainda. Já o segundo não quis falar. Quanto aos demais, até a publicação deste material, o PontoPoder não obteve retorno. O espaço está aberto para manifestações.
‘Decisão pessoal’
Pai do ministro Camilo Santana (PT) e presidente do PSB Ceará, Eudoro Santana demonstrou insatisfação pela escolha de Elmano, mas também não aprovou a decisão de Cid. Para o dirigente, o erro do governador foi "não consultar" os demais partidos da base aliada no Ceará antes de tomar uma decisão sobre o candidato governista da sucessão de Evandro.
"O PSB não foi consultado. Aliás, nenhum outro (partido) foi consultado até onde sei. (...) É um projeto maior do que todos que participam. Um projeto que tem vários atores, oito partidos, não pode ser tomada uma decisão sem ouvir, sem consultar. (...) Essa decisão não pode ser pessoal, o projeto é coletivo", avaliou Eudoro.
Por outro lado, ele considerou o ato de Cid Gomes precipitado. "O (erro) de Cid foi de tomar a decisão pessoal, sem ouvir os companheiros, os demais partidos, o próprio partido dele", disse. Eudoro afirmou que o senador telefonou para ele, após a reunião com o governador, informando que era um "problema pessoal".
Segundo Lia Gomes, a indicação de Fernando Santana ao comando da Assembleia foi apenas "mais um fato" que gerou incômodo, tendo em vista que já existia uma insatisfação crescente por parte do senador.
Em outras oportunidades, Cid deixou clara a sua intenção em dialogar pela “não-hegemonização da política” no Ceará. Em março deste ano, ainda durante conversas iniciais sobre as eleições em Fortaleza, ele defendeu um “compartilhamento de poder”.
“Não sou dono da verdade e nem sou radical, mas eu acho que o exemplo que temos aqui no Ceará de compartilhamento de poder, de não-concentração, de não-hegemonização da política, acho que é algo bom, portanto eu tenho defendido com lealdade que a gente possa ter um candidato que não necessariamente seja do mesmo partido que já tem a Presidência da República e que tem o Governo do Estado”, disse.
O PontoPoder contatou a assessoria do governador Elmano de Freitas e do senador Cid Gomes para saber se eles gostariam de se manifestar sobre as declarações. O espaço segue aberto para pronunciamentos.
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