Estratégia da defesa pode levar a uma redução de pena do jogador. Advogado do jogador conseguiu condenar, em Minas, PM acusado de crime em que o corpo não foi encontrado
Todos unidos contra Luiz Ferreira Romão, o Macarrão, ou todos em defesa
do goleiro Bruno Fernandes de Souza? Desde que assumiu a defesa do
jogador, Rui Caldas Pimenta vem sustentando com unhas e dentes a
estratégia de
atribuir a responsabilidade na trama do sequestro e assassinato da jovem Eliza Samudio ao amigo e braço direito do atleta.
Pelos últimos movimentos dos acusados, o plano parece se concretizar
aos poucos. Na manhã desta segunda-feira, o advogado de Macarrão, Wasley
Vasconcelos, deixou o caso, alegando apenas questões pessoais.
Entretanto, ele havia informando que renunciaria ao cargo se o seu
cliente aceitasse participar de qualquer manobra para proteger o
goleiro.
A expectativa é de que a qualquer momento Macarrão assuma a autoria do
crime, isentando o jogador e ex-patrão de culpa. Formalmente, não há
ainda confirmação a respeito de contatos de Rui Pimenta com Macarrão,
que é mantido na Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em
Contagem (MG), onde ele e o goleiro aguardam julgamento. Procurada, a
Secretaria de Estado de Defesa Social Minas Gerais (Seds) informou que
não poderia confirmar as datas da visita, mas afirmou que o defensor de
Bruno está cadastrado para visitar Macarrão.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado estadual Durval Ângelo, uma
confissão de Macarrão assumindo a autoria da morte da ex-amante do
goleiro é mais do que prevista. Em julho de 2010, o parlamentar,
acompanhado de colegas da comissão, esteve no presídio para apurar
denuncias de que Luiz Romão estaria sofrendo retaliações e ameaças de
morte de funcionários da unidade e de alguns detentos, para que ele
tomasse a culpa do homicídio.
“Já havíamos cantando essa pedra. Não é nenhuma surpresa. Sabíamos que,
mais cedo ou mais tarde, a defesa do Bruno iria fazer do Macarrão um
bode expiatório. Macarrão assumindo o crime, o jogador pode até receber
uma condenação, mas com uma pena menor. Como vem sido mantido esse tempo
todo na prisão, Bruno pode ganhar em breve sua liberdade e voltar a
jogar futebol. Sabemos que há alguns clubes de olho no passe dele”,
disse o deputado.
Entretanto, na opinião do parlamentar, mesmo se Luiz Ferreira Romão
assumir a autoria da morte de Eliza Samudio, a vida do amigo de Bruno
ainda estará correndo perigo. “Mesmo se o Macarrão segurar sozinho as
pontas, eles vão tentar eliminá-lo, para não haver o risco de ele se
arrepender e depois acabar revelando toda a trama de morte da jovem”.
Assistente de acusação, o advogado José Arteiro Cavalcanti também disse
não se surpreender com a estratégia da defesa. Para ele, o movimento de
Rui Pimenta mostra o desespero da defesa por não conseguir sustentar a
versão de que, sem corpo, não há crime. “Podem se armar de qualquer
maneira, estou preparado. Nenhum deles é inocente, estão todos
envolvidos nesse crime macabro. Eles atraíram Eliza para o Rio, depois a
sequestraram e a trouxeram para Minas, mantiveram a moça em cárcere
privado, a torturaram e depois a levaram para a morte. Como é que o
Bruno pode ser inocente nessa história se há provas de que ele estava
junto com os comparsas a todo o momento?”, questia Arteiro.
O inquérito policial em que o goleiro Bruno de Souza aparece como o
principal articulador da morte de Eliza Samudio foi presidido pelo o
chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado
Edson Moreira. Segundo o delegado, não há qualquer dúvida de que a
jovem foi executada a mando do ex-amante, porque o goleiro não queria
assumir a paternidade do filho que ela esperava – a criança atualmente
está com dois anos e vive com avó materna, no Mato Grosso do Sul.
Crime sem corpo - O advogado Rui Caldas Pimenta
recentemente atuou em um julgamento de assassinato, em que o corpo da
vítima não foi encontrado. O caso foi o da secretária Viviane Andrade
Brandão Camargos, de 25 anos, que desapareceu em dezembro de 2002.
Segundo investigações da Polícia Civil e denúncias do Ministério
Público, a mulher mantinha um relacionamento amoroso com um cabo da
Polícia Militar, de 43 anos, e teria sido executada pelo policial e a
mulher dele, de 41. Pimenta trabalhou como advogado da acusação e o
casal foi condenado pelo desaparecimento e morte da jovem. O acusado
recebeu pena de 15 anos de prisão e, a mulher, 14.
Durante o julgamento, Rui Pimenta pediu pena máxima aos acusados. E a
noiva de Bruno Fernandes de Souza, a dentista Ingrid Calheiros,
acompanhou toda a sessão. Pouco depois, Pimenta assumiu a defesa do
jogador. Desta vez, o desafio do advogado será o de provar a inocência
do réu. Para isso, Pimenta pretende livrar o jogador e concentrar a
autoria sobre Macarrão.
Para isso, Pimenta começou a construir a imagem de um crime com
motivação passional. Em entrevista ao site de VEJA, o defensor de Bruno
afirmou que Macarrão é homossexual e teria matado Eliza Samudio em nome
do amor que tinha pelo atleta. O advogado Adilson Rocha, conselheiro da
seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG) diz que quando
se trata de um crime sem corpo, o cuidado deve ser dos jurados. De
acordo com o conselheiro, a lei permite o julgamento independentemente
da localização do corpo. “A lei não é ingênua, e não é verdadeira a
impressão de que sem corpo não há crime. Tem de haver provas ou indícios
com caráter suficiente de crime para convencer os jurados. O réu, para
ir a júri popular, não precisa de um contato com o corpo da vítima”,
alerta.
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Folha
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