Simone Vasconcelos, 55, era diretora financeira da agência de
publicidade SMPB, uma das empresas usadas para distribuir o dinheiro do
esquema organizado pelo PT no governo Lula.
Ela foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal pelos crimes de
corrupção ativa, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de
divisas. Sua pena ainda não foi definida pelo tribunal.
Na sexta-feira, ela quebrou o silêncio que mantinha desde seu depoimento
à CPI dos Correios, que investigou o mensalão em 2005, e concedeu uma
longa entrevista à Folha em Belo Horizonte.
Chorando, Simone disse que prefere cumprir uma pena alternativa, como a
realização de serviços comunitários, do que ir para a cadeia.
"Eu peço que eles [os ministros do STF] deixem eu ver o crescimento de
minha neta", afirmou Simone. "Eu sou do bem. Se eu errei? Claro que
errei, errei sim, mas já paguei pelo erro nestes sete anos."
Simone vive hoje com uma aposentadoria de R$ 2.400 e trabalha numa
locadora de veículos administrada por parentes. A seguir, os principais
trechos da sua entrevista.
Simone Vasconcelos, em sua primeira entrevista desde o seu depoimento na CPI dos Correios |
Folha - Qual a sua opinião sobre o julgamento do STF?
Simone Vasconcelos - É um sofrimento de sete anos. Há uma diferença
gritante entre mim e a [ex-gerente da SMPB] Geiza Dias, que felizmente
foi inocentada, e a grande maioria dos réus. A nossa pura inocência é
que me levou a estar nesse processo. Uma inocência burra. Eu tinha a
expectativa de ser inocentada, inclusive pelo [ministro do STF] Joaquim
Barbosa.
Como viu suas condenações?
Sou acusada de evasão. Não sei o que é isso. E uma quadrilha em que só
conheço três, os ex-sócios [de Valério]? Corrupção? Quando você corrompe
alguém, você quer alguma coisa. Quem eu corrompi para ganhar o quê?
Depois soube que era para uma votação da Previdência, não é isso? Isso é
briga de cachorro grande, e eu estou lá.
O que diria aos ministros que agora vão decidir sua pena?
Peço que eles deixem eu ver o crescimento de minha neta [de seis meses].
Eles sabem o que fazer. Sei que é impossível, mas gostaria era que os
ministros todos pudessem fazer isso aqui comigo. Podia ser questionário,
olho no olho, Joaquim Barbosa, um por um. Vem, pergunta. Aí eles iam
saber quem sou eu.
E a possibilidade de ser presa?
Estou fazendo um trabalho mental, espiritual. Se for necessário, eu vou,
com dignidade, trabalhar lá dentro, com gestantes, ajudar a cuidar. Vai
ser meu modo de me manter viva. Eu sou do bem. Se eu errei? Claro que
errei, errei sim. O erro de ter aceitado a ordem para entregar os
valores. Eu provavelmente perderia meu emprego, porque Marcos Valério
nunca foi um chefe
amigo, ameno.
amigo, ameno.
Aceitaria pena alternativa?
Claro que eu topo. Eu prestaria serviço comunitário, iria contribuir muito mais do que ficar lá [na cadeia].
A sra. não achava estranho distribuir dinheiro vivo para políticos em Brasília?
Achava estranho e questionei: "Marcos, não posso fazer DOC,
transferência bancária?" Ele disse: "Simone, a agência está toda
correta. Os contratos você viu, a parte da agência está toda certa. Se
existe alguém errado nessa história é quem recebe, e isso é problema
deles." Não conheço ninguém da cúpula do PT que está no processo, nem do
Banco Rural, [que ajudou a financiar o esquema].
Como começou essa história?
Quando recebi a ordem de preparar a documentação para firmar os
empréstimos com os bancos, encarei o serviço como outro qualquer. Eu
sabia que o Banco Rural emprestou aquela fortuna. O Marcos falava: "Faz
isso direito que eu tenho que prestar contas para o Delúbio [Soares,
então tesoureiro do PT]."
A sra. não imaginou nessa hora que havia algo errado?
Não sou bobinha, claro que sim. Eu ficava pensando: o Banco Rural fica
emprestando dinheiro para o PT, é lógico que tem algum interesse. Mas
não era da minha alçada.
O empréstimo era para o PT e quem recebia não era do PT.
E eu sabia lá quem era quem? Eu não tinha noção de quem era o Jacinto
Lamas [tesoureiro do PL], que chegava todo risonho. Eu queria que ele
assinasse o recibo logo. Jamais ouvi falar em compra de voto. Para mim,
era assim: "Esse pessoal está fazendo caixa dois, pagamento de
campanha." Ganhava só meu salário para fazer isso.
Quando a sra. depôs na CPI, em 2005, ficou marcada pela frase de que
carregava mala com rodinha, ao ser perguntada sobre repasse de dinheiro.
A sra. se arrepende da frase?
Não. Usaram fora do contexto. Nunca usaram nada a meu favor. A ministra
[do STF] Cármen Lúcia diz que fui cínica. Ela tinha que ler. Nunca
carreguei mala com dinheiro. Entregava no banco e às vezes no hotel.
A sra. se arrepende de algo?
Me arrependo de não ter tido mais maldade, de confiar tão cegamente, de
ver que isso não estava correto. Não adianta ter arrependimento de
coisas que não fiz. Meu arrependimento é de não ser mais maldosa. Não
tive essa maldade. A entrega do dinheiro era 1% do meu trabalho.
O advogado da Geiza diz que ela era mequetrefe. A sra. também se considera uma mequetrefe?
Neste contexto? Total. Eu não era [mequetrefe] na importância da organização da empresa. Mas nisso aí [mensalão] é outro mundo.
Afinal, qual era sua função na agência, diretora ou gerente financeira?
Me deram todos os cargos, até de secretária. Se chegava uma
concorrência, eles queriam aumentar o staff da agência, eu era diretora
financeira. Às vezes eu era gerente.
A sra. era uma espécie de braço-direito do Valério?
Ele tinha confiança de que o que eu levasse para ele assinar, era algo
que ele havia determinado. Não teria nada que eu inventei, que não
estava autorizado.
Qual última vez que a sra. falou com ele?
Fui obrigada a cumprimentar o Marcos na Justiça Federal, numa audiência,
coincidiu o horário. Eu cortei relações. Não vejo Marcos Valério há
muitos anos.
A sra. acha que ele a usou?
Tenho certeza absoluta. É onde chega minha inocência burra. Se 100% dos
funcionários da SMPB fossem obrigados a testemunhar, diriam que eu era
subalterna. A gente fazia só o que era determinado, sem poder questionar
ordens. O Marcos não dava abertura para conversas. Para mim, os
empréstimos eram legais. Eu fui a boba, a ingênua burra, inteligente
para umas coisas e burra para outras, eu sei.
Alguém ofereceu algo para sra. não falar nada?
Não recebi nem pêsames quando meu pai morreu, vou receber outra coisa?
Que que isso. Não tenho nenhuma carta na manga. Eu falei tudo. E você
acha que tenho algum reconhecimento?
O Valério é quem comandava tudo mesmo na agência em relação ao dinheiro distribuído?
Quem me dava ordem em relação a esse dinheiro do PT chama-se Marcos Valério. É a minha verdade.
Tem alguém que recebeu dinheiro cujo nome ainda não foi revelado?
Eu não sei, porque as pessoas que iam buscar nem sempre eram as que
recebiam. O Jacinto Lamas, por exemplo, ia pegar comigo e não sei para
quem ele repassava.
E como foi a história do ex-deputado José Borba, de que não quis assinar o recibo?
Eu estava em BH trabalhando, e o Marcos me liga bravo: "Você deixou o
dinheiro lá com fulano e ele não quis assinar, você vai ter que ir a
Brasília só para pagar e é você que estou mandando ir". Depois vim a
saber que era José Borba e não queria assinar.
E como era a relação entre os sócios da SMPB?
Todos os três têm personalidades diferentes, valores diferentes. E eu
punha panos quentes, porque é da minha característica. Eles não tinham
um bom relacionamento entre eles e eu por muitas vezes consegui ajudar.
A sra. tem acompanhado o julgamento do STF?
No início, nas acusações da procuradoria, não. Ia me fazer muito mal,
ficar engolindo veneno. Comecei a assistir quando começaram as defesas.
O que sra. diria para o relator Joaquim Barbosa?
Ameniza o coração, amacia o coração. Outro dia acordei com muita dor no
quadril e lembrei dele. A vontade é de xingá-lo o tempo inteiro. Eu
rezei para ele ficar bom dessa dor [ministro tem dor crônica nas
costas], porque a dor põe as pessoas brutalizadas, amargas. Quem sabe
ele melhorando, começa a ver as coisas com olhos mais isentos. Ele me
aproximou dos sócios em vez de me aproximar da Geiza. Todo mundo falou
que eu era funcionária. Eu tinha esperança que ele fosse me absolver. Aí
veio a condenação.
Fonte:Folha
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