Fundada em 1989, a Apapec é uma das
únicas instituições na região do Sertão Central cearense que trabalha
com dedicação total a pessoas “especiais”. O nascimento da instituição
foi motivado pela luta pessoal da fundadora, que tem um filho especial.
Em entrevista concedida a Jaime Arantes, um dos editores do Monólitos
Post, Vera Lúcia explicou: “Quando Deus me deu este filho especial,
senti desde o primeiro momento que eu estava sendo chamada para uma
missão maravilhosa, que era não só de cuidar do meu filho, mas também de
ajudar outras famílias com as mesmas necessidades.”
De sua criação até o dias atuais, a
Apapeq evoluiu e se tornou uma instituição muito querida por toda a
sociedade quixadaense. Atualmente, dispõe de dezenas de profissionais
dedicados ao cuidado de crianças e adolescentes especiais.
São fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogas e
professores, todos inspirados e motivados pelo exemplo da fundadora. Os
profissionais da Apapeq são seguidores de um método de serviço que
inclui, entre os componentes mais importantes, respeito e amor de
verdade pelas crianças atendidas.
A Apapeq também oferece vivências
terapêuticas a pessoas entre 30 e 58 anos. Elas realizam atividades tais
como hidroginástica e natação, e há até mesmo um coral composto apenas
por deficientes mentais.
A contribuição da Apapeq ao povo de
Quixadá não se limita apenas ao oferecimento destes serviços essenciais
que nunca foram ofertados pelo município, mas se estende à promoção de
uma conscientização da sociedade voltada para o acolhimento dos
portadores de necessidades especiais. A Apapeq também tem feito toda a
diferença na vida familiar das crianças atendidas, e muitos pais dizem
que não saberiam o que fazer sem o auxílio da instituição.
Vale ressaltar que a Apapeq não onera a
administração de Quixadá, uma vez que cada criança atendida ali gera
receita para os cofres do município. O Estado, com o qual a instituição
também é conveniada, entra com a manutenção de dez profissionais.
FIM DA APAPEQ
Na última sexta-feira, 13, o Secretário de Educação, Antônio Martins, levou à Câmara Municipal o Projeto de Lei nº. 036, de autoria do próprio gestor, que visa criar o Centro de Apoio à Educação Inclusiva. Uma mensagem oficial enviada pelo prefeito João Hudson ao Presidente da Câmara, Pedro Baquit,
solicitou “que a matéria seja apreciada e aprovada em caráter de
urgência”. Na prática, a aprovação do projeto representa o fim da
Apapeq. Como assim?
Ocorre que o projeto apresentado pelo
Secretário de Educação visa não apenas a criação do Centro de Apoio à
Educação Inclusiva, mas a implantação de uma política municipal para a
educação especial totalmente nova. E estas novas políticas simplesmente
não parecem levar em consideração a existência da Apapeq e, em médio
prazo, tornarão a instituição obsoleta. A aprovação do projeto
representa, portanto, o fim da Apapeq.
O projeto apresentado pelo Secretário de
Educação também requer a criação de cargos e funções gratificadas e
abre espaço para a contratação de vários prestadores de serviço.
REAÇÃO DA APAPEQ
Vera
Lúcia Carneiro e funcionários da instituição estão indignados. Vera
explicou que não é contrária à implantação de políticas públicas
melhoradas em relação à educação especial, mas acha que o Secretário de
Educação está simplesmente passando um rolo compressor na Apapeq.
“Gostaríamos de sentar com todos os envolvidos na promoção da educação
especial no município. Queríamos discutir os pontos em que precisamos
melhorar e analisar o papel de cada um. O CRISCA, por exemplo, criado em
2006, simplesmente deveria funcionar, mas é uma instituição abandonada
pelo poder público. Agora, sem consultar ninguém, numa atitude de
ditador, o Secretário quer simplesmente agir como se duas décadas de
trabalho e esforço não tivessem sido dedicados a essas crianças”,
afirmou ela.
Vera também disse que considera o ato do
prefeito João Hudson, de aprovar esse projeto sem consultar a Apapeq,
como uma verdadeira traição. Segundo ela, João é amigo solidário da
Apapeq desde a fundação, e sabe muito bem o valor que a instituição tem
na vida das crianças. “Fomos todos pegos de surpresa, Jaime. Eles não
tiveram a ombridade de sentar conosco para discutir o assunto”,
acrescentou Vera Lúcia. “Só queremos dialogar a respeito, só queremos
ter nosso trabalho, que é feito com amor, valorizado. Só queremos
comunicação. Não aprovamos essa atitude autoritária, ditatorial”,
desabafou a educadora.
Está marcada para hoje uma reunião entre
dirigentes da Apapeq e o Secretário de Educação, Antônio Martins. A
reunião ocorrerá por volta das onze horas, na própria secretaria.
Os pais das crianças atendidas pela
Apapeq estão preocupados. Por telefone, conversamos com três mães que
pediram para não ser identificadas. Elas temem represálias contra
parentes empregados na prefeitura. Uma delas disse: “Minha preocupação é
que esse serviço venha a ser colocado nas mãos do município. Sabemos
que jamais conseguirão fazer do mesmo modo que a Apapeq faz. A Apapeq,
quando você vem aqui, você vê que isso aqui é mais do que um trabalho
para estas pessoas. Isto aqui elas fazem como se os filhos fossem
delas.”
Outra mãe afirmou: “As pessoas daqui da
Apapeq são muito preparadas. Não vou confiar em gente dessa gestão
desastrada da prefeitura para cuidar do meu menino. Hoje eu já chorei
muito por causa disto. Não queria que o João aprovasse isso. Queria que
ele ajudasse a Apapeq a crescer e melhorar.”
A terceira mãe foi incisiva: “Estou
anotando o nome de todos os vereadores que aprovarem esse absurdo. Eu
não vou esquecer o nome daqueles homens e mulheres que contribuíram para
o fim da Apapeq. Meu filho vem aqui desde que nasceu. Essa é a casa
dele. Esse trabalho não pode ser substituído por nada. Isso aqui é feito
de amor. O prefeito, esse secretário e os vereadores precisam entender
que estão mexendo com vidas, e vidas de criancinhas. Se esse projeto
resultar no fim da Apapeq, ter votado nesse prefeito terá sido a pior
coisa que já fiz em toda minha vida.”
POSICIONAMENTO DO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO
Contatamos o Secretário de Educação,
Antônio Martins, para que ele falasse sobre o polêmico projeto. As
palavras dele deixam claro duas coisas: (1) a Prefeitura está
absolutamente decidida a levar o projeto adiante; (2) como resultado
disto, a APAPEQ será abatida pelo projeto. É, de fato, apenas uma
questão de tempo para que as novas políticas relacionadas à educação
especial em Quixadá estejam sob o controle direto e total da Secretaria
de Educação, retirando instituições como a Apapeq de seu protagonismo
destacado e reduzindo-as à mera categoria de ‘complemento educacional’.
Segue parte dos esclarecimentos do Secretário de Educação dados ao Monólitos Post:
“Os que me antecederam deixaram de
cumprir os dispositivos legais no papel de definir as políticas públicas
para a educação quixadaense, inclusive a educação inclusiva. As ações
ficaram por todos estes anos nas mão de uma ONG.
“Quixadá não avançou e nem vai
avançar se permanecer com esta visão limitada. Precisamos avançar na
inclusão e não na segregação de pessoas com deficiência.
“A apapeq é uma ong, ela possui um
estatuto próprio registrado em cartório e possui CNPJ. Quem define seus
rumos e suas competências são os seus associados. O papel das ong’s são
importantes, mas são importantes como ação complementar da educação da
escola e da família, não para substituir estas instituições.
“Tenha um feliz natal para você e para sua família.”
Após estes esclarecimentos, Antônio Martins expôs razões legais, dispositivos e acordos que, segundo ele, subsidiam sua decisão.
Resta-nos perguntar: Tem o município de
Quixadá reais condições de substituir a Apapeq? Serão os serviços
oferecidos pelo novo Centro de Apoio da Educação Inclusiva tão eficazes
quanto aqueles oferecidos pela Apapeq? Tem a administração do prefeito
João da Sapataria a necessária experiência para gerenciar um serviço tão
delicado? Acima de tudo, é isto o melhor para as crianças especiais?
Como as novas políticas de educação especial a serem implantadas em
Quixadá acolherão a Apapeq? Só o tempo dirá. A única certeza é que, se
aprovado tal projeto, Quixadá estará trocando o certo pelo duvidoso.
Compensa arriscar?
Postada:Gomes Silveira
Edição:Ingrid Lima
Fonte:Monólitos Post/Jaime Arantes
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