terça-feira, 11 de março de 2014

Clássico-Rei violento - Sonho distante


Pedidos de paz Punição de torcedores foi apenas não assistir ao jogo entre Fortaleza e Ceará. Somente três pessoas continuam presas por ocorrências de domingo
Incidentes do último domingo, com duas pessoas baleadas, expuseram novamente o retrato da impunidade

Domingo passado foi um dia tenso par a cidade. Foi dia de mais um Clássico-Rei. Sete pessoas foram feridas, sendo duas baleadas e uma espancada quase até a morte; 73 pessoas, sendo seis menores que estavam em ônibus em direção ao Castelão, foram presas ou detidas com rojões e pedras. A punição deles? Apenas não puderam assistir ao jogo. Foram liberados em seguida.
Apenas três homens permanecem presos no 16º Distrito Policial: o primeiro porque quebrou uma cadeira do Castelão; outro que estava cometendo furtos no estádio; e um terceiro que levava uma bomba caseira. Este foi flagrado com o artefato antes de entrar na arena.
O problema maior é que isso deverá se repetir nos próximos jogos entre Ceará e Fortaleza, por não se tratar mais de uma novidade. Ocorreu nos clássicos passados também. A impunidade de ver as mesmas pessoas cometendo crimes e voltando a cometer os mesmos atos de violência é o que vem afastando a esperança do verdadeiro torcedor de voltar a se sentir seguro em dias de jogo entre os maiores times do Estado, na Capital.
Punição de torcedores Estádio de primeiro mundo, com serviços padrão Fifa; estímulo para a economia local; visibilidade da Cidade para os turistas nacionais e internacionais; e todo o legado de um Mundial para a população são importantes, porém são pequeninos quando comparados a atos criminosos de indivíduos travestidos de torcedores, que aterrorizam e transformam pontos da Cidade em verdadeiros campos de batalha de uma guerra sem sentido.
Repressão
No domingo, a Polícia Militar teve bastante trabalho para conter os confrontos espalhados pelos bairros da Capital. Eles crescem na mesma proporção de a rivalidade dentro de campo entre os times de Fortaleza e Ceará.
Pessoas foram baleadas, um homem foi espancado quase até a morte e outro atingido por uma pedra arremessada pela torcida rival. As ocorrências policiais, mais uma vez, se confundiram e dividiram espaço com o noticiário esportivo. E, rotineiramente, tem sido assim.
Antes mesmo de chegarem a ocupar as arquibancadas do Castelão, os pseudo-torcedores vestidos de preto e branco ou vermelho, azul e branco trazem pânico a quem cruza seu caminho.
Apesar de todo o trabalho preventivo da PM, com apreensão de rojões, pedras e até uma bomba caseira; e mesmo com todas as pessoas presas e detidas, o dia foi considerado tenso pela população. A Polícia, entretanto, o avaliou como "tranquilo". Isso porque há um histórico de graves e violentos conflitos nos dias de Clássico-Rei.
Em abril do ano passado, a Capital do Estado foi notícia em todo o mundo por conta do assassinato de dois homens que estavam indo ao Castelão ver um jogo entre Ceará e Fortaleza. Domingo último, esse fato quase voltou a se repetir.
'Enxugando gelo'
Para o sociólogo Maurício Murad, autor de livros sobre a violência entre torcidas organizadas, o trabalho da PM é importante, mas ineficiente. "Estamos enxugando gelo. Resolvemos o problema de um lado e ele reaparece de outro. Tem que reprimir e prender, sim, mas é preciso dar continuidade ao processo criminal até as últimas consequências na Justiça", afirma.
Para o especialista, o que ocorre com os torcedores em Fortaleza, Recife, Rio, São Paulo, e demais centro urbanos tem uma explicação clara: a impunidade. Os delinquentes infiltrados nas organizadas não são sofrem sanções. "No Brasil, cerca de 95% dos processos criminais não são finalizados; 92% das autuações da Lei Seca sequer viram inquérito; e o trânsito matou 42 mil pessoas em 2012. É o reflexo desse cenário brasileiro", lamenta, ressaltando que as leis podem melhorar, mas já são suficientes para punir. "O que falta é aplicar a legislação", complementa.
Para Murad, outras medidas podem ajudar como a adoção de um disque-denúncia das organizadas, monitoramento nas redes sociais e trabalho educativo.
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Seis menores são reincidentes
O expediente, ontem, na 5ª Vara de Execuções da Infância e Juventude de Fortaleza foi "caótico", como classificou o próprio juiz titular Manuel Clístenes de Façanha Gonçalves. Segundo ele, seis dos 26 menores apreendidos antes de chegarem ao jogo entre Ceará e Fortaleza já tinham passagens na Justiça por delitos graves.
O fato motivou o juiz a solicitar fiscalização à administração do estádio para a entrada de menores desacompanhados ou acompanhados por adultos sem laço consanguíneos ou grau de parentesco nos jogos. "Nenhum deles estava acompanhado. Eles nem poderiam entrar. Então, o que poderiam fazer lá?", questionou o magistrado.
Clístenes também estranhou o fato de nenhum desses adolescentes possuir ingresso para a partida. "Inventaram que tinham ingresso e jogaram fora durante a confusão. Outros disseram que iriam comprar, mas não tinham dinheiro para isso. Foram todas desculpas esfarrapadas", sentenciou Clístenes.
De acordo com o delegado de plantão, Romério Almeida, também houve delitos praticados por maiores de idade. "Um homem foi preso no Castelão ao ser flagrado quando roubava um cordão de ouro de um torcedor. Outro por ter quebrado uma cadeira; e o terceiro nem chegou a entrar no estádio porque estava levando uma bomba caseira, do tipo 'cabeça de nêgo'", disse.
Ceará x América também preocupa
Não só os jogos entre clubes do mesmo Estado preocupam a segurança dos eventos futebolísticos. Com as alianças de torcidas organizadas, há uma preocupação também com os jogos entre equipes de Estados diferentes, como é o caso de Ceará x América/RN. As equipes se enfrentam amanhã, às 22h, na Arena Castelão, pela Copa do Nordeste.
A partida entre ambos é considerada de risco, já que as torcidas são tidas como rivais, por conta da ligação que as organizadas do time potiguar teriam com as do Fortaleza, e as do Ceará teriam com as do ABC, rivais do alvirrubro.
Por toda essa "complexidade", a Polícia Militar do Ceará fará uma operação de segurança reforçada: haverá 200 policiais no evento, com o trajeto das duas torcidas semelhante ao do Clássico-Rei: a do Ceará se encaminhará ao estádio pela Avenida Alberto Craveiro, enquanto a do América pela Paulino Rocha.
Medida
Devido aos confrontos entre as torcidas de América/RN e Ceará, ocorridos durante um jogo da Série B, em Goianinha (RN), em 2013, os dirigentes das duas equipes cogitam não solicitar ingressos como visitantes. Portanto, as torcidas que não forem de casa nos dois jogos - amanhã, no Castelão, e no dia 19, em Natal - terão de comprar os ingressos por conta própria, na cidade onde acontecerão as partidas.

 

DA REDAÇÃO DO CENTRAL QUIXADÁ ONLINE



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Postada:Gomes Silveira
Fonte:DN

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