Incidentes do último domingo, com duas pessoas baleadas, expuseram novamente o retrato da impunidade
Domingo passado foi um dia tenso par a cidade. Foi dia de mais um
Clássico-Rei. Sete pessoas foram feridas, sendo duas baleadas e uma
espancada quase até a morte; 73 pessoas, sendo seis menores que estavam
em ônibus em direção ao Castelão, foram presas ou detidas com rojões e
pedras. A punição deles? Apenas não puderam assistir ao jogo. Foram
liberados em seguida.
Apenas três homens permanecem presos no 16º Distrito Policial: o
primeiro porque quebrou uma cadeira do Castelão; outro que estava
cometendo furtos no estádio; e um terceiro que levava uma bomba caseira.
Este foi flagrado com o artefato antes de entrar na arena.
O problema maior é que isso deverá se repetir nos próximos jogos entre
Ceará e Fortaleza, por não se tratar mais de uma novidade. Ocorreu nos
clássicos passados também. A impunidade de ver as mesmas pessoas
cometendo crimes e voltando a cometer os mesmos atos de violência é o
que vem afastando a esperança do verdadeiro torcedor de voltar a se
sentir seguro em dias de jogo entre os maiores times do Estado, na
Capital.
Repressão
No domingo, a Polícia Militar teve bastante trabalho para conter os
confrontos espalhados pelos bairros da Capital. Eles crescem na mesma
proporção de a rivalidade dentro de campo entre os times de Fortaleza e
Ceará.
Pessoas foram baleadas, um homem foi espancado quase até a morte e
outro atingido por uma pedra arremessada pela torcida rival. As
ocorrências policiais, mais uma vez, se confundiram e dividiram espaço
com o noticiário esportivo. E, rotineiramente, tem sido assim.
Antes mesmo de chegarem a ocupar as arquibancadas do Castelão, os
pseudo-torcedores vestidos de preto e branco ou vermelho, azul e branco
trazem pânico a quem cruza seu caminho.
Apesar de todo o trabalho preventivo da PM, com apreensão de rojões,
pedras e até uma bomba caseira; e mesmo com todas as pessoas presas e
detidas, o dia foi considerado tenso pela população. A Polícia,
entretanto, o avaliou como "tranquilo". Isso porque há um histórico de
graves e violentos conflitos nos dias de Clássico-Rei.
Em abril do ano passado, a Capital do Estado foi notícia em todo o
mundo por conta do assassinato de dois homens que estavam indo ao
Castelão ver um jogo entre Ceará e Fortaleza. Domingo último, esse fato
quase voltou a se repetir.
'Enxugando gelo'
Para o sociólogo Maurício Murad, autor de livros sobre a violência
entre torcidas organizadas, o trabalho da PM é importante, mas
ineficiente. "Estamos enxugando gelo. Resolvemos o problema de um lado e
ele reaparece de outro. Tem que reprimir e prender, sim, mas é preciso
dar continuidade ao processo criminal até as últimas consequências na
Justiça", afirma.
Para o especialista, o que ocorre com os torcedores em Fortaleza,
Recife, Rio, São Paulo, e demais centro urbanos tem uma explicação
clara: a impunidade. Os delinquentes infiltrados nas organizadas não são
sofrem sanções. "No Brasil, cerca de 95% dos processos criminais não
são finalizados; 92% das autuações da Lei Seca sequer viram inquérito; e
o trânsito matou 42 mil pessoas em 2012. É o reflexo desse cenário
brasileiro", lamenta, ressaltando que as leis podem melhorar, mas já são
suficientes para punir. "O que falta é aplicar a legislação",
complementa.
Para Murad, outras medidas podem ajudar como a adoção de um
disque-denúncia das organizadas, monitoramento nas redes sociais e
trabalho educativo.
Linha do Tempo
12 de maio de 2013
No PV, o segundo duelo entre Fortaleza e Ceará nas semifinais do
Estadual teve balanço positivo. Nenhum confronto foi registrado
5 de maio de 2013
Antes do Clássico-Rei, 45 pessoas foram presas e outros25 foram apreendidos enquanto se encaminhavam para o PV
14 de abril de 2013
Em evento-teste para a Copa do Mundo no Castelão, o embate terminou com duas mortes, 204 prisões e 96 jovens apreendidos
17 de março de 2013
O primeiro Clássico-Rei da Arena Castelão teve 44 prisões e 20 apreensões. Como de costume, houve quebradeira em terminais
Seis menores são reincidentes
O expediente, ontem, na 5ª Vara de Execuções da Infância e Juventude de
Fortaleza foi "caótico", como classificou o próprio juiz titular Manuel
Clístenes de Façanha Gonçalves. Segundo ele, seis dos 26 menores
apreendidos antes de chegarem ao jogo entre Ceará e Fortaleza já tinham
passagens na Justiça por delitos graves.
O fato motivou o juiz a solicitar fiscalização à administração do
estádio para a entrada de menores desacompanhados ou acompanhados por
adultos sem laço consanguíneos ou grau de parentesco nos jogos. "Nenhum
deles estava acompanhado. Eles nem poderiam entrar. Então, o que
poderiam fazer lá?", questionou o magistrado.
Clístenes também estranhou o fato de nenhum desses adolescentes possuir
ingresso para a partida. "Inventaram que tinham ingresso e jogaram fora
durante a confusão. Outros disseram que iriam comprar, mas não tinham
dinheiro para isso. Foram todas desculpas esfarrapadas", sentenciou
Clístenes.
De acordo com o delegado de plantão, Romério Almeida, também houve
delitos praticados por maiores de idade. "Um homem foi preso no Castelão
ao ser flagrado quando roubava um cordão de ouro de um torcedor. Outro
por ter quebrado uma cadeira; e o terceiro nem chegou a entrar no
estádio porque estava levando uma bomba caseira, do tipo 'cabeça de
nêgo'", disse.
Ceará x América também preocupa
Não só os jogos entre clubes do mesmo Estado preocupam a segurança dos
eventos futebolísticos. Com as alianças de torcidas organizadas, há uma
preocupação também com os jogos entre equipes de Estados diferentes,
como é o caso de Ceará x América/RN. As equipes se enfrentam amanhã, às
22h, na Arena Castelão, pela Copa do Nordeste.
A partida entre ambos é considerada de risco, já que as torcidas são
tidas como rivais, por conta da ligação que as organizadas do time
potiguar teriam com as do Fortaleza, e as do Ceará teriam com as do ABC,
rivais do alvirrubro.
Por toda essa "complexidade", a Polícia Militar do Ceará fará uma
operação de segurança reforçada: haverá 200 policiais no evento, com o
trajeto das duas torcidas semelhante ao do Clássico-Rei: a do Ceará se
encaminhará ao estádio pela Avenida Alberto Craveiro, enquanto a do
América pela Paulino Rocha.
Medida
Devido aos confrontos entre as torcidas de América/RN e Ceará,
ocorridos durante um jogo da Série B, em Goianinha (RN), em 2013, os
dirigentes das duas equipes cogitam não solicitar ingressos como
visitantes. Portanto, as torcidas que não forem de casa nos dois jogos -
amanhã, no Castelão, e no dia 19, em Natal - terão de comprar os
ingressos por conta própria, na cidade onde acontecerão as partidas.
DA REDAÇÃO DO CENTRAL QUIXADÁ ONLINE
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Postada:Gomes Silveira
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