terça-feira, 27 de setembro de 2016

UM DIA DE CAMPANHA - Roberto Cláudio: o desafio de ser prefeito e agradar a todo mundo

Na avenida Aguanambi, enquanto o engarrafamento não se desatava, próximo à Domingos Olímpio no sentido praia-sertão, Roberto Cláudio (PDT) foi reconhecido ao volante por quatro vendedores de água de coco e mineral. Por alguns minutos, no calor das quase 11 horas de um dia com poucas nuvens
e de um calor aperreante em Fortaleza, os quatro ambulantes do Sol e do asfalto aproveitavam a chance inesperada daquele encontro para tentar vender algumas garrafinhas d´água... E, também, reivindicar que o prefeito voltasse atrás em um dos feitos mais elogiado por quem pega ônibus na Capital.

Expedito Pereira dos Santos, 48 anos, 15 deles vendendo água na Aguanambi, não reivindicou casa nem emprego nem uma prótese para um dente que incompleta o sorriso fácil. “Prefeito, acabe com esse negócio de ar-condicionado nos ônibus. Nossa venda de água caiu. Só prejuízo, arruinou muito pra gente”, disparou o ambulante num queima roupa de sinceridade desconcertante.

A queixa inusitada descambou em gargalhadas dos próprios vendedores e do prefeito, que havia baixado o vidro da Hilux refrigerada para cumprimentá-los. O riso dentro do carro, e entre os ambulantes, veio sincero e sem desdém. É que Roberto Cláudio, até então cobrado para ampliar a oferta de ar-condicionado em toda a frota do sistema de transporte coletivo de Fortaleza não teve resposta pronta ou ensaiada para o pedido de Expedito. Justa a demanda, mas pouco factível de reversão. O candidato experimentava, ali, o ponto de vista de quem depende do calor e da sede dos outros para ganhar a vida.

“Você veja como é que são as coisas, quando é que eu imaginaria que o conforto de se deslocar num ônibus com ar-condicionado poderia ter um outro lado? Que afetaria o negócio deles na rua? É a Cidade...”, comentou Roberto. Mais ou menos como escreveu Paulo Mendes Campos no texto Para Maria da Graça: “Se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato”.

Francisco Lucélio, outro vendedor de água, no asfalto há 25 anos, tem 37. Calcula que perdeu 50% do lucro. Ele, Expedito, Haroldo e Amarílio vendiam de R$ 70 a R$ 80 por dia. Agora, estariam fazendo R$ 40. “As janelas não abrem mais e o povo se treme de frio dentro dos ônibus”, brincou Lucélio. “Vamos ter que inventar outra coisa ou então o prefeito arranja um empregos pra nós”, riu e seguiu.

Abraços, beijos...
O encontro casual com os vendedores de água aconteceu perto do fim de uma manhã em que fui acompanhar a performance de Roberto Cláudio na cata por votos. Sobre a campanha, fomos conversando do Cocó (onde mora) ao Moura Brasil. Mudou um bocado com o fim das derramas suspeitas de dinheirama, dos showmícios e da batalha dos carros de som em cada esquina. Ir pra rua, ser visível, mesmo com o risco de ser constrangido, voltou a ser uma das principais moedas da campanha. 

Às 10h02min da última sexta-feira, o médico que virou prefeito pelas mão dos Ferreira Gomes estacionava a Hilux numa das ladeiras do ex-Arraial Moura Brasil. Na Padre Mororó, ao lado do antigo Instituto Médico Legal, começava a peregrinação no asfalto novo, ainda cheirando a piche fresco e um mormaço medonho subindo pelos pés.

No empurra-empurra de homens, mulheres, crianças e da militância paga a bandeiras amarelas, teve espaço para receber um Pardal, de Castanha, de um eleitor animado. “Um picolé pro senhor e queria uma foto pra colocar no Face”. O prefeito não se fez de rogado. Rasgou a embalagem, deu algumas mordidas, fez pose para a selfie e continuou a escalada do morro que, no fim do Século XIX, de 1915 a 1932, foi campo de concentração para retirantes da seca no Ceará.

De lá pra cá, Fortaleza virou uma metrópole, a quinta capital do País. Mas o Moura Brasil, esquadrinhado o entre o Centro e o Pirambu, não deixou de ser um bairro de carências.

“Eu quero ganhar minha casa. Tô inscrita desde 2009”, desejou a lavadeira Cláudia Lopes do Nascimento, 39, após abraçar Roberto Cláudio em uma das travessas, também asfaltada, da rua da Saudade. “Não dá. Tenho dois filhos, pago R$ 270 de aluguel por dois vãos e meu marido é pedreiro. É fácil eu conseguir o aluguel social?”, perguntou antes de saber que eu era repórter do O POVO. “Fala com ele”, pediu.

Na mesma rua da Saudade, agora já descendo para avenida Leste Oeste, Roberto Cláudio, pajeado pelo vereador, presidente da Câmara de Fortaleza e candidato à reeleição, Salmito Filho (PDT), era pouco para distribuir tantos abraços, beijos, apertos de mão e selfies. Até um cachorro, da raça Chao Chao, entrou no bolo.

O comício? Uma fala em cima de um palanque? No parapeito de uma casa? “Agora, mais ainda, é corpo a corpo e pedir, no porta a porta, o voto do povo”, disse Roberto Cláudio.

VÍDEO

Na Internet
Assista ao webdoc que mostra uma manhã na campanha de Roberto Cláudio em: www.opovo.com.br/videos

Bastidores

1 Na última sexta-feira, acompanhei, desde as primeiras horas, o prefeito Roberto Cláudio em campanha. Nesta reta final, o corpo a corpo começa cedo

2 O prefeito, candidato à reeleição, dirigiu o carro particular no percurso entre os bairros Cocó, Moura Brasil e Joaquim Távora.

3 Entre os apertos de mão, uma parada para ler e ouvir as reivindicações de integrantes da Associação de Catadores do Moura Brasil. Eles criticaram a exclusão de trabalhadores do programa de coleta seletiva de materiais recicláveis e pediram um galpão para trabalhar no bairro.

4 A rotina de Roberto Cláudio começa cedo. Ele diz que separa o expediente da manhã para visitar obras e percorrer a cidade. O que flagra de pendente vai acionado os secretários pelo WhataApp. Na caminhada, basicamente bebe água. Não comeu nada nem passou protetor solar.

5 Os compromissos da Prefeitura não se misturam com a campanha. As caminhadas pelos bairros são feitas pela manhã, entre 9 e 10 horas. À tarde despacha no Paço Municipal e à noite cumpre tarefas como candidato. A volta pra casa depende da agenda.


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POSTADA POR GOMES SILVEIRA

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