Com toque de recolher para os moradores e em meio a uma sequência de mortes violentas, o bairro Vicente Pinzón, onde segundo levantamento da Prefeitura de Fortaleza residem cerca de 45 mil pessoas, voltou a ser epicentro de uma guerra entre facções criminosas. Em resposta, as forças de segurança do Ceará iniciaram operação integrada na noite desta quinta-feira (17).
O governador do Ceará, Elmano de Freitas, acompanhou a saída de policiais militares, civis e penais para a operação com objetivo de "coibir crimes violentos letais e intencionais e inibir a atuação de organizações criminosas". Ele estava ao lado do secretário da Segurança, Roberto Sá.
Segundo o chefe do Executivo Estadual, os últimos indicadores criminais apontam que "efetivamente há uma disputa de facções por territórios, uns faccionados tirando a vida de outros faccionados". Conforme Elmano, é preciso "proteger a população e a vida de todos os cearenses que estão no meio disso", e a escolha de começar a megaoperação no Vicente Pinzon se dá pelos homicídios registrados na região.
Elmano indicou que o trabalho "não tem prazo determinado" e será permanente. Os recursos continuarão sendo disponibilizados e foi autorizado, inclusive, hora extra para reforçar o efetivo. O governador reforçou que o efetivo continuará aumentando, principalmente com os concursos públicos.
"E essa operação acontece exatamente naqueles locais aonde vai se apresentando o índice maior de violência, ou que a inteligência detecta a informação de algum planejamento de organização criminosa que vai fazer algum ataque em algum lugar. Dessa maneira nós intensificamos a presença da polícia para evitar que esse ataque aconteça, e caso aconteçam, aqueles que praticarem serão presos".
Disputa por território de traficantes
Nos últimos meses, segundo fontes ligadas à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os grupos armados Comando Vermelho (CV) e Guardiões do Estado (GDE) travam disputa por território de drogas na região.
Tiroteios e homicídios amedrontam os moradores, que passaram até mesmo a alterar suas rotinas habituais: "academia que fechava às onze da noite, agora fecha às nove horas. As pessoas têm medo de sair de casa, a gente tá vivendo dias de terror" (sic), disse uma moradora que reside no local há mais de 30 anos.
"Tá uma guerra mesmo, Castelo Encantado, Cais do Porto, o grande Vicente Pinzón Olha, pra gente tá muito difícil. Uber tem dificuldade de entrar no bairro. Há duas semanas tá um desespero, horrível. Muitas mortes. Ainda bem que a Polícia está muito presente, Polícia tem bastante, mas mesmo assim a gente se sente muito inseguro. Está todo mundo aterrorizado mesmo, com medo"
A mulher, de identidade preservada, diz ainda que "quando dá oito da noite ninguém mais fica na calçada, nem na porta de casa. É todo mundo dentro de casa e de porta trancada. É Polícia direto, não para. Polícia que a gente nunca nem tinha visto. É a nossa sorte, Deus e a Polícia, porque tá uma guerra mesmo, um negócio sinistro".
Por trás do acirramento entre as facções estaria um homem identificado como Ronald Pinto dos Santos. Conhecido como 'Bicho Feito', Ronald era membro da GDE e passou a integrar o grupo carioca CV.
Em 2016, Ronald foi preso em flagrante por tráfico de drogas e associação para o tráfico. No ano passado, foi condenado e apelou da decisão, que já transitou em julgado.
ASSASSINATOS
Já nesta quinta-feira (17), horas antes da operação, aconteceu mais um homicídio no bairro. Um homem foi morto a tiros e dois suspeitos pelo crime capturados logo em seguida.
De acordo com as estatísticas da Superintendência de Pesquisa e Estratégia da Segurança Pública do Ceará (Supesp-CE) vinculada à SSPDS, de janeiro até junho foram registrados 19 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) na Área Integrada de Segurança (AIS) 1, que abrange os bairros Vicente Pinzón, Cais do Porto, Mucuripe, Aldeota, Varjota, Praia de Iracema e Meireles.
O ápice da violência no primeiro semestre deste ano na AIS 1 foi em abril, com seis mortes violentas.
Um dos casos mais emblemáticos foi o assassinato do skatista Marco Felipe Mendes de Sousa, o 'Felipe Maracajá', de 15 anos, vítima de um 'Tribunal do Crime'.
O adolescente foi torturado e morto a tiros no último dia 30 de junho. A vítima foi interceptada e cercada em via pública, no bairro Vicente Pinzón, pelos criminosos.
Pelo menos seis suspeitos foram flagrados participando diretamente do homicídio. Quatro foram presos e são suspeitos de integrarem a facção Guardiões do Estado. Não há indicação que Felipe integrava ou não uma facção criminosa.
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